quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A Gôndola

Vou ao relento, deitando em uma velha gôndola. À deriva de um sol ardente, ou a uma chuva violenta, mas sem qualquer preocupação. O rio tranquilo me carrega por um longo tempo, e nesse tempo, eu caio em sono.

Então eu sonho. Sonho com o céu rubro, as nuvens negras e o rio ao qual uso de transporte estava negro e asqueroso. Sonho também que meu amor está deitado junto comigo. Seus olhos estão diferentes, esquisitos. Ele se levanta e me joga ao rio, e eu entrego meu último grito a ouvidos traidores e entrego minha ultima lágrima a olhos vis.

Sempre ouvir dizer que o amor traz alegria e também sofrimento, mas nunca ouvi falar que ele traz a morte. Talvez porque ela seja bonita e nos ame mais do que nós mesmos. Talvez a morte seja a nossa única companheira.

Talvez tenha sido a morte que tenha me tirado daquele rio, porque ela me ama e não me quer ver padecer. Porque seu amor é confuso, e ela sabe que não pode me abraçar, porque seu abraço é mortal. E é esse mesmo amor que aflora pela distância que deve ser permanecido, porque ele é como uma rosa esquecida. Ela é abandonada, mas mesmo assim não deixa de brotar e exalar perfume.

Meu peito ainda está ofegante e a grama macia acolhe meu corpo cansado. Sinto a gélida presença ir ao meu encalço e ainda deitado escuto uma voz dizer:

- Que passear de gôndola?

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