Eu poderia começar dizendo que numa bela alvorada nascia um coração puro e calmo que semearia a paz na terra, mas se assim dissesse, estaria mentindo para mim e para vocês.
Naquela maldita noite, as trevas deram mais um grito exalando suas sombras e envolvendo uma pobre menina que manchada de rubro sangue chorava desesperadamente por infelizmente ter vindo a esse mundo.
Os anos foram se passando e eu fui notando que ela se envolvia cada vez mais com sua verdadeira natureza. A menina se hipnotizava com qualquer coisa, parecia ansiar pela morte como um leão que aspira raiva e sai em disparada até sua presa, e só depois de três chamados meus, seu rosto me dava atenção. Ela passava horas contemplando rutilamente a lua e o meu medo aumentava cada vez mais, porque eu sabia que naquela noite mesmo, estaria eu, correndo um grande perigo.
O vento balançava os galhos das árvores enquanto meu coração batia acelerado, porque sentia a presença dela se aproximar aos poucos.
A minha alma grita ao transparente lume lunar e permanece enjaulada pela abóbada celeste aos confins do tempo até me fazer perceber, que no dia em que ela nasceu seu destino estaria selado, e esse estaria fadado à apenas matar.
Sua presença adentra o quarto, a qual está munida duma faca, que será usada para roubar minha alma e ser levada por essa maldita ceifadora de vidas. O canto do corvo acaba sendo minha marcha fúnebre enquanto meu corpo morto banha a cama de sangue e Maria segue para o jardim.
Seus passos negros esmagam a grama e a apodrecem, enquanto seu rosto permanece com um eterno e rotineiro sorriso de orelha a orelha, e o olhar gótico fita a estufa.
Ao entrar no cemitério de borboletas, suas mãos deslizam por cima das rosas e seu perfume voa para o ar. As sombras consomem cada centímetro do ambiente e os vidros se quebram, menos um.
Um espelho ainda vive no fundo do ambiente, o qual será a minha esperança de vingança. Maria avista o espelho e permanece parada até que é engolida por ele. Minha alma rejubila de alegria em saber que as trevas estão agora apreendidas.
Infelizmente o espelho não se quebrou e a maldição ainda vive e se espalha pelo mundo. Se tu queres saber mesmo como é estar na presença dela, dirija-se até um espelho e profira calmamente:
- Bloody Mary, Bloody Mary… Bloody Mary.
Adeus!
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