quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Rosa Cremada

Lágrimas correm em meu rosto
Porque te vir embora
E assim sinto um ódio morto
E uma saudade lírica e sonora.

Meu coração quer gritar
Para o mundo ouvir.
Um “eu te amo” começa a ecoar
E minha voz termina a sucumbir.

Preso estou ao seu amor
E não consigo transpor
O meu vivo calor
Em neve de isopor.

Um adeus me faz sentir
A dor duma despedida.
A saudade me faz descolorir
Em preto e branco, a melancolia desmedida.

As nuvens desenham no céu
As lembranças vivas em minha mente.
Sinto assim com gosto do fel
O germinar duma semente.

Ela cresce e se transforma
Numa rosa cremada,
E de fogo contorna
Uma paixão já maltratada.

As cinzas se espalham
Levando os restos de sentimento,
Que por outrem se fartam
Misturados com o vento.

Não posso mais nada dizer
Porque você não vai ouvir,
Depois de assim desaparecer
Na brisa a se esparzir.

O Rouxinol

Era uma vez
Um bobo rouxinol,
Na infinita placidez
Banhado pelo sol.

Seus olhos acordaram
Para a vida calma.
Suas asas despertaram
Entregando sua alma.

Logo a noite caiu
E o pássaro percebeu
Que a clara lua surgiu,
Então sua esperança reviveu.

A ave de espanto
Voou para a lua,
Contemplando seu pranto
De beleza crua.

O iludido rouxinol
Queria voar ao infinito,
Desejando aquele grande farol
Num tormento aflito.

Conta a lenda
Que a pobre ave
Quando chegou à fenda
Tornou-se suave.

Seus olhos explodiram
Numa lágrima sem fim,
Abraçados dormiram
Sozinhos assim.

Cheio de ciúme,
O pássaro nunca voltou,
Encantado pelo perfume,
Que a madame lua criou.

O Pianista

Dedos sobre as teclas,
Começo a tocar.
Tua sombra escuta,
E vem me abraçar.

Doce abraço,
Para sempre guardarei.
Em teu nome santo,
Em tua sombra morrerei.

Toco meu som,
Minha torpe melodia,
Meu cálido piano,
Para sempre sinfonia.

Tua voz eu escuto,
Em teu encalço me transformo,
Naquilo que não queria,
Para te ver meu amor,
Aonde não deveria.

Seguro teu corpo,
Que já está frio.
Sua alma se vai,
Para o eterno,
Que eu singelamente crio.

O Lobo

Lobo sombrio,
Uiva no horizonte,
Sem congelar no frio,
Sozinho no velho monte.

Seus olhos rubros
Fitam a lua.
Seu corpo vive obscuro
Com uma raiva nua.

A brisa e o lume
Misturam-se na ruína,
Compartilhando o próprio nume
Bailando sobre a areia fina.

Suas patas altivas
Parecem flutuar.
Sua alma maldita
Continua a vagar.

Suas garras afiadas
Apanham uma presa.
Seus dentes irados
A mastigam com malvadeza.

A fera se transforma
Numa pobre virgem.
Sua alma se acalma
Numa doce vertigem.

A inocente menina,
Sem lembrar-se de nada
Desaparece na neblina
Voando feito fada.

O Escorpião

Uma vez criado,
No auge da maldição.
Veneno derramado
Pelo cálido escorpião.

A lua chama seu nome
Para vagar no deserto,
Matando sua fome
No firmamento liberto.

Com seu aguilhão
Calmo e sereno,
Mata na escuridão,
Pois lá está seu veneno.

Após matar sua comida,
A devora com as quelíceras,
Mordida por mordida,
Numa frieza mortífera.

Num golpe de azar,
Picado é seu coração,
Pelo veneno a gargalhar,
Numa terrível traição.

Sua alma grita.
Seu espírito voa.
Cauda maldita.
Rainha e sua coroa.

A natureza chora,
Pois seu guardião morreu.
Viva na aurora
Eternamente creu.

Adeus, terna criatura.
Sanguinária e sonora.
Invertida candura,
Que viveu outrora.

O Apocalipse

No meio do asfalto,
Vejo um céu embebido em cólera,
Porque o apocalipse cai incessante
Pelo infinito que parece nunca chegar.

Vejo gente em prantos,
Vejo gente aos risos,
Mas eu apenas beijo meus dois amores,
Como se ironicamente o mundo fosse acabar.

Minhas lágrimas vão ao léu,
Até a morte calma e doce
Envolta de carinho.

Minha língua se envolve em teus lábios
E o chão estremece trazendo a bola de fogo.
Trazendo o emocionante fim,
Que pelo eterno guardará nossos corpos nus
Abraçados pelo amor imutável.

Me Olhas

Meus olhos acordam embaçados,
Minha cabeça vira
E meu rosto vê aquilo.
A coisa mais linda que eu já pude ver.

Vejo entre a brecha da janela
Que tu me olhas e choras.
Nossos olhos se avistam e se fitam orbitantes,
Enquanto teu rosto permanece na escuridão
E o meu se entristece por não conseguir ver o teu.

A lâmpada explode em luz prateada
E o quarto entra em trevas,
Vejo seu rosto se afastar
E os meus olhos se fecham pela eternidade,
Até meu amor nos encontramos
Nem que apenas seja, para um olhar...

Maldito Seja

Eu já cansei!
Cansei de te procurar.
Meus pés já doem
E as lágrimas encharcam minha face.

Em alguns lampejos de memória,
Ouço sua voz clamar meu nome,
Mas ela fica cada vez mais distante.

Minha visão se embaça ao horizonte plúmbeo,
Meu corpo se cansa ao relento da lua prateada,
E sinto meu coração se quebrar feito vidro,
Se rasgar feito papel, se dissipar feito à neblina.

Maldito seja o dia em que me deixás-te,
Maldito seja esse veneno chamado amor,
Essa droga viciante que me chama em sibilos de serpente.
Maldita seja a saudade que me destroça e me destrói.

E só me resta dizer adeus,
Para um amor que já morreu.
Triste fim sem ti,
Nesta vida amei e me arrependi.

Inquebrável

O que é isso que sinto?
Seria uma maldição do tempo?
Ou apenas um único e puro sentimento?

Poderia um ser humano
Ser capaz de escrever
A frase “Eu te amo”
Em outras milhares de palavras?

Poderia um mortal qualquer
Cantar tão belamente
Que te fizesse amá-lo,
Como eu te amo?

Poderia eu
Viver sem você?
Viver sem teu rosto doce,
Teus cabelos macios,
Teu corpo atraente,
Sem a tua inocência?

Um sentimento inquebrável
Une-me a você.
Devaneios nebulosos,
Levam-me até um lugar,
Onde nós dois poderíamos viver,
Sem a sociedade usar
Seu olhar torto a nos machucar.

Embora tu não saibas,
Eu te amo,
E não há ser que me tire isso.
Nem que seja para te olhar
A qualquer distância.

E a nenhum outro humano,
Eu poderia dizer,
Que resumo tudo isso,
Em uma palavra:
Você.

Do Fundo do Coração

Estou machucado.
Morto por dentro.
Apedrejado.

Que as línguas que me ofenderam caiam.
Que as bocas que me transtornaram apodreçam.
Que as mãos que tocaram queimem.
Que os corações que me odiaram sucumbam.

A todos esses ratos que me perseguem,
Desejo que definhem,
Bebam o próprio sangue,
Atormentados pela agonia e o desespero.

Que eles enquanto durmam,
Sonhem e tenham pesadelos,
Comigo tendo minha vingança,
Em um doce sacrifício.

Suas vozes estarão para sempre,
Guardadas em meu desprezo,
No alto duma velha estante,
Prontas para serem esquecidas.

Descreve-mes e Serás Meu

Quem é essa que sorri como as nuvens?
Bela como um raio que desce do céu
E temível atinge o chão.

Seus cabelos voam como pássaros na brisa
E ao proferirem seu nome os anjos gritam aleluia.
Esguia como a água e calma como um cordeiro,
Tem a pele macia como a espuma do mar
E os olhos brilham mais do que o sol.

Sua visão ao horizonte parece a aurora nos fins de noite.
Os pés firmes lhe dão um passado altivo e gracioso como o da garça.

Assim é o meu amor,
Assim é a minha paixão,
Delicada como a rosa.
A rosa que roubou meu coração.

E só me resta perseguí-la,
Numa brincadeira de pega-pega sem fim
Pelos labirintos da vida,
Sem nos importarmos de nos perdermos,
Pois enquanto estivermos juntos
Nossas almas estarão seladas,
E para nós, o resto do mundo nunca fará falta.

Demônios

Sozinho no meu quarto,
Sempre atormentado
Pelos fantasmas do passado.

Ouço murros abafados na parede!
Acho que são os demônios da minha vida
Em busca da minha carne pecadora.

Engolem-me no infinito
Sem me deixar ouvir uma última vez
O som do canário vermelho.

Sentir outra vez o revoar dos morcegos,
Enquanto estava preso naquele castelo monstruoso
Ao qual todas as portas eram bocas
Dos mesmos serem que me levam embora.

Sem ter redenção ou piedade,
Sou engolido em súbito.

O desespero do incerto me possuiu.
O que fazer agora? Chorar?
Se chorar adiantasse eu já estaria salvo.

Vou embora deste mundo
Vomitando os pensamentos que outrora
Foram palavras que engoli pelos ouvidos.

Pronto!
Agora já podem se saborear de mim,
Demônios incrédulos e natimortos.

Coração de Gelo

Em cristal perfeito
Ou em gelo esculpido,
Tua voz congela por entre os espaços,
A voz de dentro.

Você me perdeu,
Responda-me coringa,
Foi para sempre ou não?
Diga-me libélula,
É eterno ou não?

Chapeuzinho vermelho
Ou lobo mau?
O fantasma
Ou o espírito?

Diga-me apenas o que puderes,
Porque amanhã não poderás mais...

Porque teu corpo foi meu,
Tua boca é minha
E teu amor será meu.

Diga adeus meu palhacinho,
Diga adeus boca pintada.
Diga adeus lágrima negra,
Que nunca é derramada.

Caderno Negro

Em páginas impregnadas
De pensamentos imundos,
Faço minha podre arte
Oriunda dum coração machucado.

Com sua pele negra,
Ele possui tesouros
E maldições terríveis,
Esperando serem lidas.

Letras formadas.
Palavras geradas.
Frases criadas.
Pragas lançadas.

Tome cuidado com o que lê,
Pois um passo em falso,
Aquelas palavras te tomarão
E nunca te devolverão a luz.

E eu que as escrevo,
Sou como um carrasco,
Feito de papel
E com caneta na mão.

A Sereia

Gótica sereia,
Numa praia tropical.
A areia te incendeia,
Perante a lua fatal.

Teu doce canto,
Aos marinheiros encanta,
Causando espanto,
Às águas que levanta.

Teu silêncio letal,
Aos corpos petrifica.
Com olhar do mal,
Ao sacrifício suscita.

Teu olhar hipnotiza
Os homens desavisados,
Puxando-os para a vida
Dentro do mar revoltado.

Teus cabelos ondulados,
Teu corpo moldado,
Tua cauda malvada,
Teu coração vingado.

Impossível se livrar
Dum transe assim,
Tento então voar
Para o céu sem fim.

Enquanto me afasto,
Vejo teu triste olhar,
Teu rosto nefasto
E sua boca a me chamar.

No meio do vento,
Envolto a lembranças,
Vejo-te ao relento,
Segurando a eterna esperança.

A História do Corvo e do Pombo

Depois da madrugada,
O sol nasce e floresce.
A noite depois de calada,
Continuamente apodrece.

Os ninhos se remexem,
As asas sem abrem,
Os olhares se enegrecem,
E os pássaros em voo caem.

No meio do vento,
Penas se agitam.
Perdidos no tempo,
Olhares se fitam.

Os corpos se entrelaçam,
Os sentimentos afloram,
Nuvens loiras se olham,
Os belos olhos choram.

As garras afiadas se lançam
Sob um céu maldito,
Diante do sol dançam
Produzindo um veredicto.

O pombo radiante voa
Com suas penas brancas,
Sua alma ecoa
E aos corações espanta.

O corvo gótico paira
Com sua cauda obscura,
Seu espírito vaga
Por uma terra impura.

O pombo diz que o ama,
O corvo diz que o odeia.
O pombo queima em chamas,
O corvo assim se incendeia.

A morte os consome enfim,
Voando neste lindo jardim.
Penas sobre marfim,
Ao relento neste triste fim.

A Boneca e a Menina

Seu rosto derrete em porcelana,
Seu coração queima em marfim.
As cinzas voam com o vento,
Que uiva em nanquim.

Altivo ele passa,
Com a Fênix em seu ombro,
Enquanto os olhos de vidro da boneca
Quebram-se ao chão,
E seu corpo de plástico,
Derrete na fogueira.

Mas a única que chora,
É a menina, chora sangue.
Ela vai fazê-los chorar também,
Vai fazê-los pagar.

A noite aparece fria e natimorta,
Com o asfalto banhado em sangue,
Enquanto a libélula rodeia a lótus.

Os corpos descansam em paz,
Na água podre e amaldiçoada.
E a lua morre mais uma vez,
Iluminando a boneca e a menina.

A Bailarina

À luz dos refletores, dança um belo ser
Blasfemando o tempo, jogando bravatas,
Gargalhando para o céu com risada tão insensata
Humilhando o vento a subir e a descer.

Sorriso macabro possuía a bailarina.
Dançava, pulava, cabelo esvoaçante,
Passos altivos, postura galante,
Corpo de mulher, rosto de menina.

Feito borboleta, suave voava.
E o público que a via, terminava a aplaudir
Com inocente vênia, imortalmente ecoava.

Ao cair das luzes, tudo voltava a se colorir.
Calada, a realidade voltava,
E depois do espetáculo, o mundo voltava a brunir.

Bloody Mary

Eu poderia começar dizendo que numa bela alvorada nascia um coração puro e calmo que semearia a paz na terra, mas se assim dissesse, estaria mentindo para mim e para vocês.

Naquela maldita noite, as trevas deram mais um grito exalando suas sombras e envolvendo uma pobre menina que manchada de rubro sangue chorava desesperadamente por infelizmente ter vindo a esse mundo.

Os anos foram se passando e eu fui notando que ela se envolvia cada vez mais com sua verdadeira natureza. A menina se hipnotizava com qualquer coisa, parecia ansiar pela morte como um leão que aspira raiva e sai em disparada até sua presa, e só depois de três chamados meus, seu rosto me dava atenção. Ela passava horas contemplando rutilamente a lua e o meu medo aumentava cada vez mais, porque eu sabia que naquela noite mesmo, estaria eu, correndo um grande perigo.

O vento balançava os galhos das árvores enquanto meu coração batia acelerado, porque sentia a presença dela se aproximar aos poucos.

A minha alma grita ao transparente lume lunar e permanece enjaulada pela abóbada celeste aos confins do tempo até me fazer perceber, que no dia em que ela nasceu seu destino estaria selado, e esse estaria fadado à apenas matar.

Sua presença adentra o quarto, a qual está munida duma faca, que será usada para roubar minha alma e ser levada por essa maldita ceifadora de vidas. O canto do corvo acaba sendo minha marcha fúnebre enquanto meu corpo morto banha a cama de sangue e Maria segue para o jardim.

Seus passos negros esmagam a grama e a apodrecem, enquanto seu rosto permanece com um eterno e rotineiro sorriso de orelha a orelha, e o olhar gótico fita a estufa.

Ao entrar no cemitério de borboletas, suas mãos deslizam por cima das rosas e seu perfume voa para o ar. As sombras consomem cada centímetro do ambiente e os vidros se quebram, menos um.

Um espelho ainda vive no fundo do ambiente, o qual será a minha esperança de vingança. Maria avista o espelho e permanece parada até que é engolida por ele. Minha alma rejubila de alegria em saber que as trevas estão agora apreendidas.

Infelizmente o espelho não se quebrou e a maldição ainda vive e se espalha pelo mundo. Se tu queres saber mesmo como é estar na presença dela, dirija-se até um espelho e profira calmamente:

- Bloody Mary, Bloody Mary… Bloody Mary.

Adeus!

A Gôndola

Vou ao relento, deitando em uma velha gôndola. À deriva de um sol ardente, ou a uma chuva violenta, mas sem qualquer preocupação. O rio tranquilo me carrega por um longo tempo, e nesse tempo, eu caio em sono.

Então eu sonho. Sonho com o céu rubro, as nuvens negras e o rio ao qual uso de transporte estava negro e asqueroso. Sonho também que meu amor está deitado junto comigo. Seus olhos estão diferentes, esquisitos. Ele se levanta e me joga ao rio, e eu entrego meu último grito a ouvidos traidores e entrego minha ultima lágrima a olhos vis.

Sempre ouvir dizer que o amor traz alegria e também sofrimento, mas nunca ouvi falar que ele traz a morte. Talvez porque ela seja bonita e nos ame mais do que nós mesmos. Talvez a morte seja a nossa única companheira.

Talvez tenha sido a morte que tenha me tirado daquele rio, porque ela me ama e não me quer ver padecer. Porque seu amor é confuso, e ela sabe que não pode me abraçar, porque seu abraço é mortal. E é esse mesmo amor que aflora pela distância que deve ser permanecido, porque ele é como uma rosa esquecida. Ela é abandonada, mas mesmo assim não deixa de brotar e exalar perfume.

Meu peito ainda está ofegante e a grama macia acolhe meu corpo cansado. Sinto a gélida presença ir ao meu encalço e ainda deitado escuto uma voz dizer:

- Que passear de gôndola?