sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A Noiva

Ela trajava o branco e no ventre do altar caminhava em direção naquilo que parecia ser sua felicidade. A floresta que rodeava a igrejinha velha e abandonada era mórbida e fria, enquanto a lua cálida e frondosa banhava a terra com seus raios de luz puros e amaldiçoados e junto com o outono as árvores deixavam suas ultimas folhas secas caírem de seus galhos tortos e sem vida. O céu estava revestido de negro enquanto a mãe lua aguardava o desfecho daquela história. Os sinos da igreja badalavam ecoando o chamado do enlace matrimonial enquanto as famílias aguardavam ansiosamente pela entrada da noiva. A marcha nupcial começa e ela entra no salão caminhando pelo tapete vermelho de veludo enquanto seu alvo véu escondia sua face e a longa calda de seu vestido se arrastava pelo chão. O noivo aguarda ansiosamente no altar a chegada de sua amada enquanto ela caminha lentamente até o seu abraço, ela chega até o altar e se ajoelha junto com seu amado, e o padre começa a cerimônia. Ela mantém o olhar fixo constantemente como se olhasse para o vazio e viajasse pelos espaços confusos de sua mente planejando algo de perverso. O noivo olha para a primeira fileira e lá está ele, o seu inimigo mortal aguarda o final da cerimônia pacientemente; ele também tem um olhar fixo igual ao de minha futura esposa, parecem estar em sintonia psíquica, sua respiração vai se tornando ofegante e perversa. Ela se levanta de súbito e seu corpo começa a flutuar por cima do altar, ela se deleita sobre ele e abre seus olhos negros e começa suas ações mortíferas. Ela mata a todos, depois que termina vai brincar com seus corpos e comer suas entranhas enquanto seu mestre aguarda pelo final da brincadeira, os corvos e abutres sentem o doce cheiro das carniças lá no alto e descem para apreciar junto com a noiva aquele banquete macabro. Seu noivo é a sobremesa, que é posta com muito carinho para se apreciada vagarosamente como um vinho que envelhece com o tempo e adocica seu sabor. Seu noivo ainda respira, pois conseguiu sobreviver, mas não por muito tempo. Enquanto ela caminha pela passagem entre os bancos, suas amigas e damas de honra pegam duas adagas e lhe apunhalam pelas costas, e ela morre ali mesmo enquanto seu néctar escorre pelo chão manchando o tapete de sangue sem alterar sua cor, e ela definha, mas não para sempre, seu mestre que aguardava ali no banco lhe faz voltar à vida e ela corre atrás das duas como um cão corre atrás dos gatinhos, e como vingança persegue as pobres vitimas que farão de tudo para se salvar. Seu vestido agora esta todo manchado de sangue por causa das brincadeiras que fez com seus amigos e parentes. Ela corre em direção as duas e as mata sem dó nem piedade exterminando toda a inutilidade do mundo, a lua chora, mas chora uma lagrima apenas, mas a sua única pior lagrima, a lagrima de sangue.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Marionetes

Eu acordava naquela manhã com o sol batendo em minha face e fazendo meus olhos arderem, meu corpo cansado se levanta da humilde cama onde esse pobre ventríloquo dorme apertado num cubículo que pode ser chamado de quarto, eu caminho pelo corredor da minha casa e pego a chave à qual guardo com minha vida, pois o que ela abre é o meu tesouro, a minha paixão, eu me direciono a uma porta no final do corredor, uma porta antiga, pesada por causa dos mistérios que guarda, a chave se encaixa na fechadura e gira abrindo assim meu coração e revelando meu tão valioso segredo. Uma sala arrebatada de fantoches e marionetes, a luz invade o local, eu vejo os meus amores, olhando pra mim, o olhar frio e sereno, o corpo de madeira, os braços e pernas presos por fios de náilon, o rosto torto se alegra quando me vê e eu compartilho o mesmo sentimento. Eu seguro todos eles em meu colo e canto para acalmá-los, minha voz doce me conforta, pois não consigo viver um dia sem eles, eu seguro os fios e os faço brincar, eu consigo escutar o som da madeira roçando e das hastes se movimentando permitindo a eles que conversem comigo. Um deles está quebrado, eu pego o martelo, pregos, tinta e começo a consertá-lo, aquilo me gratifica, ajudar meus filhos a viver sem dor e sem angústia, alguns usam máscaras, outras se vestem como pierrôs, com as faces pintadas para divertir qualquer um que avistarem, eu me fascino cada vez mais com meus filhos, eles me fazem rir, derramo lagrimas de felicidade, orgulho maior não há, eles são artistas, vão aos palcos fazendo as pessoas rirem e as vezes chorarem, mas não me importo, toda criança faz suas travessuras. Eles sussurram histórias no meu ouvido, bem baixinho, histórias de todos os tipos, que te fazem rir, chorar, ficar com medo, os palhaços jogam as serpentinas e tocam as cornetas anunciando a felicidade que desce dos céus, mas eu fico em casa cuidado dos meus amores, a minha vida é toda dedicada à eles, um trabalho eterno, sem descanso. Hoje nós vamos nos apresentar, subimos no palco e o show começa, façanhas são feitas lá em cima, e os meus bonecos começam a tomar vida, os sorrisos estridentes e os olhos fixos do publico me enchem de alegria.

O espetáculo prossegue, até que em uma hora, meus meninos fazem uma travessura sem tamanho, me colocam como fantoche, para ser alvo de risadas infames e olhares petulantes, eu sinto agora o que eles sentem, eles não gostam, mas agora é tarde, eles me castigaram, eles pegam a tesoura, a platéia aplaude de pé e eles cortam os fios que seguram a minha vida e eu desabo diante das palmas do publico emocionado, meu sangue escorre por cima das escadas chegando até o publico, eles correm assustados como bichos acanhados. O que esta acontecendo? Será que eles não gostaram do meu espetáculo?

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O Cirurgião

Minha vida corria normalmente, quando de repente eu recebo a pior noticia de minha vida: meu coração irá parar de funcionar em um mês, uma rara bactéria se alojou eu meu órgão fazendo com que lentamente ele paralise e pare de funcionar, o medico diz que a minha ultima salvação é um transplante, eu me desespero a cada dia por saber de minha horrível enfermidade, os pesadelos me visitam toda noite, eles vem zombar de mim, rir da minha desgraça, risadas sínicas ecoam pelos espaços confusos de minha mente e a minha vertigem foi embora junto com a minha esperança. Não tenho mais motivos para sair de casa, mas minha família insiste em me ver feliz outra vez, eu saio pela porta com intuito de apenas me despedir do mundo, pois não levarei nada comigo, eu me arrasto pelas calçadas como um andarilho com a vida condenada por toda a eternidade, enquanto eu caminho, eu passo por um hospital velho e imundo, e saio escondido da minha família para visitar o lugar onde minha salvação poderia estar. Ao entrar no recinto a minha alma se acalma e repousa no consolo da morte, um homem se aproxima de mim e tenta me acalmar, ele esta trajado com um avental de borracha embebido em sangue e uma mascara cirúrgica, eu conto toda a minha historia para ele, e como num milagre ele me conta que nesse hospital eles acabaram de receber um órgão de um doador falecido e que eles poderiam fazer o transplante em mim por causa da raridade da minha doença, meu coração já doente explode de alegria por saber que eu ainda tenho uma chance de sobreviver. Ele me leva até o centro cirúrgico e me manda despir, eu me deito sobre a maca e ele me cobre com uma mortalha e estranhamente ele me amarra com cintos presos entre as ferragens da cama, eu entro em desespero e pergunto:

- Por que está fazendo isso?

- Para você não fugir, estamos em falta com a anestesia.

Aquela noticia me abala e agora eu já sei o que me vai acontecer, era mortífera a sensação de saber que seria dilacerado por um homem insano e maníaco, ele fecha a porta cautelosamente aumentando ainda mais meu suspense e eu torno a perguntar:

- Por que você esta fechando a porta, o que esta acontecendo aqui? Me deixa ir embora, eu te imploro – disse eu berrando entre lagrima e soluços de desespero.

- Isso é para ninguém escutar seus gritos de dor – disse ele em meio a gargalhadas sinistras como se ele estivesse possuído.

Ele pega um bisturi completamente enferrujado e começa a brincar de medico com meu corpo, as mãos calejadas daquele cirurgião alertavam que ele não era médico de primeira viagem, que já teria brincado disso varias vezes. Antes de morrer finalmente tendo meu coração arrancado eu escuto o som de uma sirene de policia vindo, e essa foi a minha ultima lembrança de vivo ate sentir meu espírito abandonar meu corpo.

Depois de alguns dias eu volto ao meu túmulo e vejo a minha família me deixando flores na minha tumba, e leio escrito em minha lápide:

“Aqui jaz, Lúcifer, que nasceu da escuridão do ventre no qual se brota a luz”

Isso mesmo meu nome era Lúcifer, o anjo pródigo se levanta das entranhas do solo em busca da única coisa que eu quero ainda na terra. Vingança.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Rosa Vampira

Tão branca como a neve, tão suave como a bruma, a rosa vampira é um ser medonho que te suga por completo, quando esta com fome fica branca, mas quando termina de se saciar, se avermelha como o sangue e descansa em seus aposentos, a calada da noite chega e ela sai pra caçada, pra conseguir mais uma vitima que aguarda a morte como um cordeiro assustado enquanto o lobo não vem, ela caminha lentamente pelos espaços vazios do solo e sua pele alvíssima se mistura com a luz branca da lua provocando compatibilidade de cor e de desejo pois quão é provocante a lua e sua luz invocativa, a rosa vampira se aproxima do pescoço imaculado que ela tem prazer em profanar e o ataca sem piedade, sua pele segue se avermelhando e seus olhos tornam-se rubros mais uma vez, o prazer a inunda e sua pele se arrepia de tanta satisfação em se alimentar novamente pois passava fome já fazia um tempo, o corpo de sua vitima cai no chão já morto e ela o arrasta até seu casarão no meio do deserto enquanto a areia se afasta de medo. Ela retira seu capuz e mostra para o mundo seus longos cabelos negros e seu pescoço que um dia já foi mordido por outra rosa metamorfoseando-a assim naquela monstruosidade, sua boca adocicada pelo sangue cospe no chão os restos de um ser humano inocente que apenas um objeto que pode ser alcançada diante de sua força e agilidade. Ela joga o corpo no porão e vai tomar banho, sua pele quente toca a água fria provocando calafrios em um corpo morto escravizado pela fome e fadado a se arrastar pelo mundo e se lastimar por uma gota de sangue que seja, só para sentir mais uma vez a sensação do sangue mais doce do mundo tocar sua boca e deslizar por sua garganta, ela espanta os malditos corvos que sentem o podre cheiro de carniça dentro da casa na qual ela esconde suas vitimas que se somam milhares em séculos de trabalho e satisfação, as ossadas se misturam e os crânios já em decomposição mostram os parasitas que se alimentam da morte decompondo assim os corpo. O sol já mostra seus primeiro raios de luz invadindo aquela casa macabra e ela tem que ir se deitar porque já esta tarde, ela abre a porta do caixão onde dorme para se deleitar do descanso eterno, mas para ela, o seus descanso é breve, porque à noite ela sai pra caçar mais uma vez, pra caçar um pobre coitado que vaga por ai, um mendigo, um andarilho, seja quem for, para ela não existe distinção de qualquer que seja a condição de sua próxima vitima, depois que o sol se põe no oeste ela sai de seu leito para saciar-se de novo, porque sua pele esta branca novamente, ela se despede de suas pétalas alvas para se inebriar com pétalas rubras embebidas de sangue, suas vestes também mudam de cor e suas presas sedentas aparecem apenas para tilintar mais uma vez as gotas do doce néctar que pulsa quente e constante dentro dos corpos de suas vítimas, ela vaga novamente por cima do solo e ataca o meu pescoço, eu suspiro e a morte me carrega até sua cama na qual se deleita com meu espírito enquanto mentalmente meu corpo ainda lúcido escuta os violinos tocarem a marcha fúnebre, e a minha última palavra é:

- Adeus!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Palhaços

Eles te fazer rir, fazem você se divertir, com a boca pintada e o nariz vermelho eles sorriem pra você, mas comigo não foi assim. Naquela noite a lua cheia sinalizava o medo e algo de sombrio iria acontecer, eu estava naquele parque de diversões com meus amigos, eu via a roda gigante me hipnotizar com as luzes que giravam coordenadamente e meu sangue pulsar de tão rápido que eu corria para me divertir. Subimos na roda gigante e quando já estávamos lá no alto eu tive uma premonição de que algo de ruim iria acontecer, mas eu agüentei firme mesmo com o medo inconcebível, as grades da minha mente não me permitiam continuar e tendo um ataque de pânico pedi incontrolavelmente para ir embora, mas meus amigos disseram que eu ia me acalmar e depois animar-me novamente, eu inocentemente atendi ao seu apelo não querendo estragar a noite de todos.

Um deles sugere para ir até a casa dos palhaços, que era um brinquedo de terror onde palhaços lhe assustavam, mas eu clamei para não irmos, mas meu pedido foi ignorado, eu fui arrastado por eles até aquele macabro brinquedo e tremendo eu entrei sozinho porque eles me trancaram lá. Eu gritava e batia na porta para eles me deixarem sair, mas eles já tinha ido embora e a minha única saída era atravessar tudo aquilo. Eu andava temendo e abominando tudo o que se alojava ali dentro. Eu sentia que tinha alguém à espreita, se escondendo atrás das sombras que a noite cria, eu começava a escutar gargalhadas vindas de todos os cantos ecoando pelas galerias daquele lugar, eu chorava constantemente porque eu já sabia o que iria me acontecer. As gargalhadas macabras ficavam mais constantes e eu perguntava se tinha alguém ali e uma voz respondeu:

- Tem sim! Agente quer brincar com você!

- Eu não quero brincar com você, some daqui! – gritava eu para o silêncio.

Passos profundos iam se aproximando de mim e eu me assustava cada vez mais. As gargalhadas não paravam e meu desespero aumentava cada vez mais, eu via agora palhaços ao meu redor, suas bocas pingavam sangue e suas garras também.

- Agente só quer brincar com você menino, não fuja, não vai doer! – eles diziam isso parando para dar risos.

Eles se aproximavam cautelosamente, em suas mãos eles carregavam lâminas afiadas e os espelhos da sala refletiam o meu medo que era exalado pela minha mente.

Eles me seguraram e foram decepando partes do meu corpo e desesperadamente eu gritava de dor por ter meu corpo desmontado como o de um boneco. Brincadeiras divertidas, pelo menos para eles é o que eles queriam fazer e fizeram, meu restos mortais foram encontrados dias depois, mas o mistério da minha morte nunca foi desvendado, só os espelhos guardam esse segredo que para sempre vai permanecer oculto.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A Catedral

A noite estava fria, e eu queria apenas ir até a igreja para confessar meus pecados, pedir perdão a Deus em um antro de fé. Eu, um humilde vassalo dentro da casa do Senhor, abro os portões da velha catedral aonde vou rezar pelo resto do dia, ela era uma igreja antiga com uma estrutura gótica que fascinava meus olhos e inspirava à cometer qualquer tipo de ato. O vento úmido da rua se mistura com o seco da catedral, e a neve invade o salão congelando as estátuas de anjos os quais ali repousavam no descanso eterno, eu sento no banco da catedral e me ajoelho diante da força de Deus. Ali dentro velas se derretiam em cima de crânios que eram consumidos pela morte que habitava ainda mesmo num lugar sacro como aquele, vitrais de imensa imponência retratavam a história daquela igreja, e um em especial me chamava a atenção, o de uma mulher na qual enrolada em mantos negros chorava lágrimas de sangue, depois de ver aquilo, senti uma pontada no coração me alertando do perigo, o sino toca doze badaladas abalando minha cabeça e eu tento manter a calma que neste momento já é inalcançável, minha capa rubra voa de meus ombros voando como a liberdade e eu vejo em cima do altar uma rosa vermelha, que aguarda a morte em cima da mesa do Senhor, que certamente definhará com o traiçoeiro tempo que leva embora a juventude e a vida. O mármore negro guarda todos os segredos que ali foram um dia feitos, sejam eles bons ou ruins, pra mim não importa mais, porque em pouco tempo minha vida seria levada, eu me levanto, vou até o altar, seguro a rosa pelo caule e aperto-a sem me importar com os espinhos que pra mim não me causam mais dor, porque dor para mim é apenas uma palavra, o sangue escorre pelas minhas mãos como castigo pela minha alma. Eu levo a rosa até meu coração e começo a chorar, a dor que sinto, não é do meu corpo, é do meu espírito. Eu escuto uivos de lobos procurando comida no alto da colina, mas eu estou seguro dentro da catedral, pelo menos é isso o que eu imagino, eu sinto uma presença negra se aproximar cada vez mais, eu sinto uma mão fria tocar meu ombro e quando me viro... Vejo um menino de pele alva, olhos ígneos, dentes afiados, que cospe sangue e anda com as mãos, mas o mais assustador é que ele tem a minha imagem, como num espelho invertido que brinca de refletir os nosso outro lado, a muitos anos eu venho guardando esse segredo, tentado fugir, É Ele, o outro eu que veio para me atormentar, a outra alma que divide meu corpo comigo, ele veio, me machucar, me buscar. Ele gargalha e murmura meu nome que ecoa pelos ventos transmitindo a mensagem por dentro da catedral, ele se aproxima e me faz definhar, membro a membro, até a morte.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Anjo

A manhã de novembro começava fria naquele dia, mas isso não ofuscava a luz do sol que ardia os meus olhos ainda fechados de fadiga e sono. O relógio mostrava que eram 07h00min da manhã, e eu tinha que me levantar e ir ao trabalho, eu já louvava porque era uma sexta-feira e conseqüentemente o ultimo dia de trabalho antes do fim de semana. Eu um empresário de sucesso de 30 anos, me preocupava apenas em ganhar dinheiro sendo freqüentemente fútil e mesquinho. Eu morava sozinho num apartamento amplo e aconchegante do qual eu usufruía de todo o conforto que o ambiente podia me trazer. A neve se acumulava na entrada da minha casa e o vento me fazia tremer os queixos, eu atravessei a calçada com dificuldade e pegando a chave do meu carro, fechei por completo meu casaco, pois mesmo dentro do meu automóvel o frio conseguia me abalar.

O dia de trabalho fora cheio e dificultoso, mas consegui superá-lo sempre mantendo a calma, pois era rude e de fino trato, e irredutível eu me permaneci por todo o dia. A noite caíra e eu tratei logo de ir embora com a esperança de aproveitar desde agora o fim de semana que eu aguardava com tanta alegria. Eu peguei meu casaco e de relance olhei para a minha mesa na qual murchava uma rosa vermelha entristecendo o ambiente, e eu cada vez mais frigido ignorei a pobre planta que por ali iria permanecer até a morte consumi-la por inteiro.

Eu caminhava pela calçada molhada e notava que uma presença incomum me acompanhava, eu olhei para o lado e vi uma aparição inacreditável. Um homem de casaco comprido caminhava ao meu lado com uma peculiaridade: ele continha imensas e imponentes asas brancas que carregava em suas costas.

- Quem ou o que é você? – perguntei a ele com uma expectativa imensa de sua resposta.

- Eu sou um anjo! – disse ele com uma serenidade espantosa.

- E o que você quer comigo? – tornei a perguntá-lo novamente com grande medo e expectativa, pois ele poderia ter vindo para me buscar.

- Te converter. – ele respondeu transparecendo objetividade. – Você é um homem profano e eu vim na tentativa de tentar abrir seus olhos e você realmente enxergar a realidade que te rodeia.

Eu permanecia pasmo e chocado com o que estava acontecendo, pois na era freqüente a vinda de anjos na presença de mortais. Ele tinha a pele branca, os olhos azuis e um cabelo enrolado, atendia perfeitamente todos os meus conceitos sobre os anjos.

- Eu sei o que está pensando! – disse ele com firmeza como se tivesse lido meus pensamentos. – Eu decidi me apresentar assim obedecendo todos os seus conceitos da palavra anjo exatamente como a minha imagem se projeta na sua mente porque talvez aparecer de algum outro jeito você poderia se assustar com a minha aparência e a minha chance de persuasão se diminuiria. Contudo a minha verdadeira aparência deve permanecer oculta pra você, eu sou um ser de luz e sua visão perante a luminosidade desintegraria seus olhos. – disse ele me alertando.

- Olha, me desculpe, mas eu não tenho tempo nem vontade de ir a igreja, pois a considero uma perde de tempo e no meu caso tempo é dinheiro, além de tudo, eu nem acredito em Deus muito menos no demônio.

- Que pena! Pois eles acreditam em você! – aquelas palavras entraram em mim abalando-me por completo.

- Você tem que aceitar a redenção! Prove da água dos anjos e sua salvação assim será feita! – ele disse isso tocando meu rosto e praticamente hipnotizando-me. Eu o olhava fixamente e notava que seus olhos azuis produziam um olhar assassino (uma coisa incomum num anjo), mas minha autoridade já tinha sido tornado a pó e eu estava me deixando levar pela razão de seus dizeres.

Sem ter mais nenhum argumento eu me deleitei sobre seu colo e aceitei a salvação deixando agora a fé me contornar e me envolver no manto de Deus.

- Eu aceito! Faça comigo o que for sua vontade – dizendo essas palavras eu agora me entregava por inteiro às graças do meu Deus onipotente.

O anjo me olhou fixamente com o mesmo olhar assassino de antes, mas agora mais intensamente e deu um sorriso de canto de boca e disse:

- Está bem, assim seja feita sua vontade!

- A propósito, anjo, qual é o seu nome? – perguntei inocentemente.

O anjo é tomado pelas chamas, seu corpo se inebria com o vermelho do fogo, suas asas se encharcam de sangue e sua boca tilinta agora o doce néctar da vida, seus olhos ficam vermelhos de repente, e seu rosto perfeito se transformara em uma afeição tenebrosa que parecia ter sido esculpida pelo ódio e a vingança, e o anjo doce de antes se transforma naquele monstro.

- Eu sou Lúcifer! O anjo da morte. E eu vim para te buscar! – disse ele flutuando em minha frente citando os dizeres com uma voz rouca, mas grossa, como se estivesse possuída.

Ele gargalhou fortemente zombando da minha fragilidade mortal. Ele saltou para cima de mim e suas asas me cobriam e de repente não sinto mais meu coração bater, ele me levou.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O Possuído

Naquela noite eu estava com medo, deitado em minha cama podia escutar gritos de dor que ecoavam no condado onde morava. O sino tocava doze badaladas chamando a meia-noite e eu sendo apenas uma criança, corri apavorada para a cama dos meus pais, eu perguntava a eles o que era aqueles gritos e eles diziam que não eram nada, que era tudo da minha imaginação. O fruto do medo formou a curiosidade tomando-me assim coragem suficiente para ver o que estava acontecendo. De luto fechado, eu vesti uma capa negra e sai pelas ruas do condado como um espírito vagante procurando pelo o que me afligia e me tirava o sono. Eu parei de repente para admirar uma beleza de uma coisa incomum: eu via uma árvore completamente congelada e a beleza da perfeição da natureza na forma da morte. Eu me aproximei do casebre de onde vinham aqueles rugidos de desespero e empurrei a porta, ela rangia forte anunciando a minha chegada, e pelo meu desespero não havia ninguém, os gritos pararam e eu senti um alivio me possuir, até que novamente eles continuaram, mas dessa vez, vindos do porão. Eu singelamente entrei acanhado procurando pelo ser que emitia aqueles sons, velas acesas iluminavam o local e as labaredas cresciam à todo instante, a luz do luar invadia o porão no qual pouco à pouco eu entrava. Eu me aproximava cada vez mais e de repente eu via uma coisa sinistra: um padre ajoelhando rezava em algum tipo de dialeto desconhecido e freneticamente ele tremia no pé da cama onde um homem estava amarrada gritando como se alguém o apunhala-se pelas costas. O vento chicoteava os galhos secos ainda presos nas árvores e balançava também o meu espírito e os meus olhos de esmeralda se fascinavam com o que eu atentamente via, eu parado em frente àquele ritual com uma capa preta imitava o anjo da morte que vem com sua foice colher os frutos do mal e semeá-los de novo. Eu me aproximava da cama onde se debatia aquele facínora e sentia compaixão por ele por estar sentindo dor, eu toquei sua testa e com um olhar tenebroso virou sua face e segurou minha mão. Eu tentava fugir, mas ele era mais forte e sentia que ele iria arrancar meu pulso, ele olhou novamente para mim e sussurrando com uma voz rouca ele disse:

- Me ajude!

Uma lágrima de sangue transcorreu pelo meu rosto e banhou sua face, ele sentiu sua pele arder, e de repente um demônio abandona seu corpo como um parasita que abandona seu hospedeiro, o demônio voava ao redor da cama e rugia forte. Ele voou em direção a mim e possui meu corpo, eu vi toda minha vida passar diante dos meus olhos. O homem deitado na cama desperta de um transe mortal e pergunta ao padre o que vai acontecer a mim, o padre diz que isso eles irão descobrir. Eu baixei a cabeça e meus olhos verdes estão agora negros e eu suspirava a morte. Como um bicho do mato, ataquei os dois e vorazmente sentia o doce cheiro do sangue jorrar de seus corpos inocentes. Depois de terminar o serviço eu gargalhei alto contemplando meu feito e o demônio abandou-me também, mas antes ele fez meu coração parar de bater e largou meu corpo que foi apenas como um instrumento da morte.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A Menina da Fita Vermelha

Anne era uma menina afável, porém promíscua, ela tinha apenas 12 anos e morava naquele prédio grande e verde, ela sentava em frente dele, todos os dias exatamente à meia-noite, eu também passava por ele sempre a esse exato momento. Eu, um jovem missionário que estava a um passo de me entregar ao celibato tinha que conhecer melhor aquela rapariga antes que o fizesse. No meu passeio diário, ela sempre me olhava diretamente, bem no fundo dos meus olhos como um animal que instiga desafio, parecia estar me provocando. Eu estava me apaixonando, ela tinha uma aparência doce por causa da fita vermelha que usava em laço na cabeça, como um semblante de pureza. Um dia resolvi tomar coragem e ir falar com ela, tinha medo da rejeição e de ela humilhar a mim e aos meus sentimentos. Queria saber o segredo de seu rosto, o mistério de se corpo e o enigma de sua vida. Eu me aproximei e ela me olhou de cima à baixo, eu então falei:

- Quer sair comigo?

Ela então fez uma cara de orgulhosa e eu esperava um não bem dito na minha cara, e ela disse:

- Sim, estava mesmo com muita fome!

Depois de dizer essas palavras, ela soltou um sorriso sinistro e macabro, eu não sabia se ela escondia algum segredo, mas logo iria descobrir. Ela se levantou puxou minha mão com força e me levou para um beco escuro. Ela começava a me beijar ardentemente e eu correspondia, pois o meu desejo mais profundo estava se realizando. De repente seus olhos ficaram cor de fogo, ela parecia um monstro, eu tentava resistir, mas ela parecia ter uma atração magnética que não me deixava fugir daquela tentação. Ela pegou meus pulsos e prendeu a parede com uma força sobrenatural que chegava até a me machucar, ela os apertava tanto que parecia que eles iam estourar, e assim foi feito, meus pulsos estouraram como dois balões e o sangue espirrou pelo ar. Ela sentiu o cheiro forte e quente do sangue jorrando do meu corpo, eu tentava gritar, mas não conseguia porque ela ainda me beijava, ela ergueu o rosto depressa com voracidade, já davam pra ver os caninos afiados e prontos para serem usados, eu já tinha todas as informações de que precisava para entender o seu segredo: ela era uma vampira.

Não sei se fui muito burro ou apenas inocente para não perceber o seu verdadeiro ser. Ela sugava meu sangue como um doce néctar que limpava sua mente e espairecia sua cabeça, ela sugava tudo com força e a minha vida que naquele momento estava dividida em cada gota do meu sangue perdia-se em meio ao organismo daquele monstro. Depois que ela terminou de saciar sua sede, jogou meu corpo no chão esperando a morte ao relento no chão frio à beira da sarjeta agradecendo pela vida que eu tive e me arrependendo dos meus pecados e do meu maior erro da minha vida que foi ter preferido o prazer. Eu fechei meus olhos e meu espírito se dissipou.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

O Bosque

Eu passeava feliz e despreocupado com a vida tentando esquecer as provações que vivia dentro de casa com a família, eu percorria a estradinha de terra que havia no bosque de majestosas árvores e impiedosos ventos. A paisagem era linda, eu a admirava com atenção adorando-a à cada instante, a beleza do bosque inebriava meus pulmões com verdes ares e eu percorria toda a floresta e a imortalidade das lembranças ia perdendo-se pouco à pouco em minha mente. Eu me perguntava se viver era tão necessário assim, pois não era merecedor da vida, eu tocava o meu coração através do meu amuleto que me acompanhava em todas as situações, eu lembrava de todas as felicidades, de todas as lástimas e de toda a frigidez que me rodeava, eu via anjos com longas vestimentas e imponentes asas alçarem vôo sobre minha cabeça e eu conformava-me cada vez mais de que a pureza de tais serem eram incontestáveis, pois a única coisa que acalentaria meu coração era um abraço de um anjo e sua suntuosa luz que se transforma em paz em meus braços, eu lamentava derramando lágrimas negras nunca ter tido tal oportunidade. Meu coração se aquecia dentro do meu corpo e acelerado ele pulsava fazendo meu sangue ferver correndo dentro de minhas veias. Eu sentia o oculto se esconder atrás dos arbustos, ele estava à espreita, esperava a hora certa para atacar. Eu via um gato negro miando em minha frente, eu sabia que ele anunciava a minha morte. Eu congelei ali mesmo onde estava e imóvel eu permaneci, pensar naquele momento era inútil e correr também, meus olhos azuis cintilantes brilhavam à luz do pôr-do-sol majestoso que me rodeava e sucumbia a minha tristeza conformando-me do terrível destino que me aguardava. As folhas das arvores farfalhavam como numa dança dos ventos e eu percebia como a natureza era perfeita e livre de erros, eu notei que estava anoitecendo e notei também que havia ignorado a minha morte que ainda estava ali, me olhando. Levantei do chão frio e sujo das folhas secas e comecei a andar, o vento foi me consumindo e o medo ia se aproximando junto com a morte. Eu senti uma presença atrás de mim, me virei e ao ver aquilo, gritei, mas foi meu ultimo grito e meu ultimo olhar. Aquilo pulou em cima de mim e começou a rasgar meu corpo e picotava minha alma como se fosse papel. A lua pura e cintilante era a única testemunha da minha dor, eu derramava lágrimas de sangue e se já sem voz eu tentei gritar, eu sentia meu espírito se esvaindo pelo vento e sendo tomado pela luz. Ele era feroz, parecia um animal, mas a realidade era incerta, eu não sabia como fugir, como pedir ajuda, eu me debatia na esperança de a ultima gota de vida não ser derramada, pois a ultima gota de lágrima já tinha sido. Ele deixava marcas profundas em meu corpo e rastros inabaláveis em meu sangue e minha história já tinha sido fadada ao término, depois de ter abusado de toda minha inocência ela se levantou terminando de brincar comigo pois já sabia que eu não tinha mais salvação, eu senti o peso daquele corpo se aliviando e se retirando, depois de me entregar finalmente à morte para ter o descanso eterno, eu escutei um miado estridente. Seria o gato que teria feito aquilo tudo?

Não... Mas, quem sabe? As feras sempre são imprevisíveis.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O Beco Sangrento

A lua brilhava naquela noite e iluminava meus olhos e os do meu amor no Beco Sangrento, era como ele era chamado por todos quem um dia passaram por ele e nunca mais voltaram. Eu andava sem rumo e desnorteado vagando como um andarilho que se perdia na imensidão da vida, o meu amor naquela noite era a solidão, que me acompanhava fielmente e era mantida com rigor. Eu estava desorientado no beco e meu corpo tonto e vacilante se arrastava pelas paredes, eu parecia uma criança perdida dos pais e com medo do que poderia encontrar mais adiante. Eu parei deslizando no chão e recostando-me no muro pensativo com as minhas tribulações que eu sabia que um dia iriam embora com o vento. Eu tinha sido amaldiçoado pela tristeza e a única coisa que não importava era a vida, estava sendo mal agradecido à Deus por ele ter dado essa dádiva a mim. Eu sentia tonturas e enjôos, vomitei na calçada, olhei estranho e voltei a pensar na vida, eu era uma escória, um estorvo, eu via vultos passarem na minha frente e via os olhares tortos me machucando por dentro e ferindo meus sentimentos. Eu olhei para o alto e já com a vista cansada e tonta de tanto beber Vodka, eu deparei-me com uma aparição inacreditável, eu não sabia o que era, pois só via sua sombra e sua silhueta, o rosto dele se escondia na lua cheia da sexta-feira treze, eu abaixei a cabeça, esfreguei os olhos pensando estar delirante, mas ele continuava ali mantendo fixo o olhar, não sabia se era uma coruja ou um cão, acho que nenhum dos dois, mas com certeza um demônio. Iria me puxar pra morte levando-me assim para o inferno, acho que eu merecia uma morte com o cérebro inebriado de álcool. Ele tinha olhos vermelhos, cor de sangue, me hipnotizava, eu não corria e nem fugia, o medo consumia naquele momento e o meu coração palpitava acelerado, eu dei meu ultimo suspiro, o monstro pulou em cima de mim com voracidade, eu me debatia, ele carregava consigo uma lâmina, ele me fez degusta- lá provando assim da dor, eu tentava gritar, mas não conseguia, minha voz tinha ido embora e a minha vida também teve o mesmo destino.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

A Máscara Rubra

Meu coração batia forte e pulsava constante, eu corria muito para fugir daquele destino que me devoraria vivo, estava frio e o vento varria as folhas secas do chão, eu escutava os açoites das árvores verdejantes e os estrondos dos trovões, anunciavam chuva. Eu tentava fugir da morte daquele que usava a máscara rubra, mas parecia que não iria conseguir, eu corria o quanto podia, mas ele não se cansava, que não sentia dor nas pernas, nunca tinha visto uma pessoa correr tanto, era como uma cavalo que trotava com força, e trazia consigo uma faca já suja de sangue por na certa ter matado alguém no alto da colina.
Ele foi se aproximando pouco a pouco e o espaço que eu definia durante a nossa perseguição ia diminuindo, ele estava incontrolável, com sede da morte, eu podia escutar sua respiração ofegante como se fosse um animal perseguindo sua presa, ele estava determinado a me matar satisfazendo assim sua vontade. Eu virava a cabeça para trás e só conseguia ver a máscara rubra, porque o resto do corpo se apresentava apenas como um vulto.

Uma Semana Atrás...
Eu andava pelos corredores do colégio feliz com minha namorada gozando dos prazeres da juventude e do amor, eu a deixei na porta da sala onde aconteceria sua próxima aula, ela me deu um beijo doce como o mel e disse:
- Nós iremos à cabana no fim de semana?
- Claro! Não vejo a hora, temos que aproveitar que meus pais viajaram pro exterior e usufruir daquela casa.
Eu me despedi dela e fui em direção ao clube de literatura, pois era um jovem escritor que gostava de fazer contos com uma certa peculiaridade, eu escrevia sobre terror. Sentei em uma cadeira e escutei atentamente o que o professor dizia, mas só conseguia pensar na cabana, era uma casa rústica, mas um tanto aconchegante, eu iria fazer 18 anos e queria uma comemoração diferente e bem ocupante...
Eu escutava atentamente até que um abraço arrancou minha atenção, era uma amiga de sala e colega de talento, ela também tinha uma aptidão imensurável para a literatura, assim nós conseguíamos ter assuntos em comum e costumávamos trocar opiniões. Eu me virei e vi que era ela:
- Que foi? Assustou-se? – disse ela com um tom brincalhão.
- Claro que não! – disse me inebriando com a beleza da cor de seus cabelos, eram cor de fogo, cor de sangue, um vermelho que me hipnotizava. Ela estalou os dedos me acordando do transe.
- Ta olhando o que?
- Nada, só a beleza de seus cabelos bela moça ruiva. – disse com um ar galanteador e até mesmo desafiador, pois sabia que a um ano ela gostava de mim, mas eu já estava namorando, então não pude corresponder o mesmo sentimento, e desde então nos tornamos amigos, pelo menos era assim que eu pensava, mas no fundo eu sabia que ela ainda mantia uma paixão platônica por mim.
- E ai? Vai comigo na viagem? – eu a tinha convidado para ir até a cabana, para aproveitar o clima frio da época que fazia nas colinas, e ela levaria seu namorado, um cara meio sinistro que eu nem conhecia direito.
- Não. Eu não quero atrapalhar sua comemoração de aniversário, se é que você me entende? – ela disse com um tom prepotente.
- Vocês dois, parem de conversar! – disse meu professor, um homem amargo e invejoso. – Você fez o conto que eu pedi? – disse ele duvidando da minha capacidade, ele leu na frente de todos e apontou uns erros que não faziam o menor sentido, ele tinha inveja de mim por causa da minha capacidade e fazia de tudo para me ridicularizar na frente dos outros alunos, e acredito que na verdade mantia um profundo ódio, nunca descobri porque.
O sinal tocou, peguei minha mochila e sai da sala com a vermelinha (era assim que eu a chamava, pela questão do cabelo e de gostar profundamente do vermelho).
- Eu vou te falar uma coisa, você é uma ótima pessoa, mas você tem um péssimo gosta pra namoradas, porque eu acho essa sua namorada muito enjoada e arrogante. – disse ela empinando o nariz.
- Não fala assim meu amor, eu sei que vocês duas não se dão bem, mas você precisa no mínimo gostar dela por mim – disse a acalmando, nós éramos muito carinhosos um com o outro, pois éramos amigos desde que nascemos, mesmo na adolescência a gente ter ficado algumas vezes.
- Tudo bem, por você eu faço tudo – disse ela me dando um beijo no rosto, ela se despediu e foi embora.
O grande dia tinha chegado, era um dia de sábado, portanto tinha acordado mais tarde naquela manhã, desci e fiz meu café, eu ouvi umas batidas na porta, quando vi quem era...
Meu professor estava lá. Ele entrou de supetão sem nem pedir licença, e me entregou um trabalho, sobre um conto de cinco páginas, na verdade eu até gostei, pois me divertia escrevendo.
Logo a noite caiu, eu tinha ligado pra minha namorada combinando que iria passar na casa dela. Eu arrumei minhas coisas liguei o carro e sai. Quando já estávamos lá, eu e minha namorada, na cabana, eu coloquei uma música romântica e servi um vinho. Deitei na cama e ela se debruçou em cima de mim, começamos a nos beijar, até que ela pediu pra ir no banheiro cortando todo o clima, eu até entendi porque mulheres são assim. Eu estava esperando já fazia uns quinze minutos e ela não vinha, até que eu escutei uns barulhos do lado de fora, nem liguei, mas eles foram ficando mais freqüentes, até que escutei alguém bater na porta, me levantei e fui atender achando até meio estranho, quando eu abri a porta, ele estava lá, o assassino rubro. Eu me afastei aos poucos até que cai no chão, eu gritei pela minha namorada, mas acho que ela já tinha sido morta porque no banheiro tinha uma janela. Eu peguei a taça de vinho ao lado da cama e joguei em seu rosto tão rápido que a bebida conseguiu penetrar em seus olhos, ele se debateu e desabou. Eu corri pelo bosque cercado pela cabana, o mais rápido que pude, mas já dava pra escutar os galopes dele. Ele corria rápido até que eu escorreguei nos cipós e no musgo ali do chão, eu me levantei, mas vi que não tinha mais pra onde fugir, pois havia um enorme abismo onde terminava a estradinha. Eu o vi se aproximando lentamente, eu clamava por piedade, dava pra escutar seu risinho malicioso por trás da máscara, eu pedi com todas as forças para que pelo menos ele se revelasse, ela se reverenciou e tirou a máscara.
Eu podia imaginar tudo, menos aquilo, quando eu vi quem era, quase não acreditei, uma pessoa que amava tanto não podia estar fazendo aquilo comigo, era minha namorada.
- Por quê? – disse desesperado.
- Por causa da sua amiguinha , a vermelinha – disse ela gargalhando alto.
- Eu não quero competição, com você, então se você não pode ser meu, não vai ser de mais ninguém.
Ela cravou a faca em meu peito e me jogou abismo abaixo. A última coisa de que me lembro foi de meu ultimo suspiro, e depois a morte.