sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A Catedral

A noite estava fria, e eu queria apenas ir até a igreja para confessar meus pecados, pedir perdão a Deus em um antro de fé. Eu, um humilde vassalo dentro da casa do Senhor, abro os portões da velha catedral aonde vou rezar pelo resto do dia, ela era uma igreja antiga com uma estrutura gótica que fascinava meus olhos e inspirava à cometer qualquer tipo de ato. O vento úmido da rua se mistura com o seco da catedral, e a neve invade o salão congelando as estátuas de anjos os quais ali repousavam no descanso eterno, eu sento no banco da catedral e me ajoelho diante da força de Deus. Ali dentro velas se derretiam em cima de crânios que eram consumidos pela morte que habitava ainda mesmo num lugar sacro como aquele, vitrais de imensa imponência retratavam a história daquela igreja, e um em especial me chamava a atenção, o de uma mulher na qual enrolada em mantos negros chorava lágrimas de sangue, depois de ver aquilo, senti uma pontada no coração me alertando do perigo, o sino toca doze badaladas abalando minha cabeça e eu tento manter a calma que neste momento já é inalcançável, minha capa rubra voa de meus ombros voando como a liberdade e eu vejo em cima do altar uma rosa vermelha, que aguarda a morte em cima da mesa do Senhor, que certamente definhará com o traiçoeiro tempo que leva embora a juventude e a vida. O mármore negro guarda todos os segredos que ali foram um dia feitos, sejam eles bons ou ruins, pra mim não importa mais, porque em pouco tempo minha vida seria levada, eu me levanto, vou até o altar, seguro a rosa pelo caule e aperto-a sem me importar com os espinhos que pra mim não me causam mais dor, porque dor para mim é apenas uma palavra, o sangue escorre pelas minhas mãos como castigo pela minha alma. Eu levo a rosa até meu coração e começo a chorar, a dor que sinto, não é do meu corpo, é do meu espírito. Eu escuto uivos de lobos procurando comida no alto da colina, mas eu estou seguro dentro da catedral, pelo menos é isso o que eu imagino, eu sinto uma presença negra se aproximar cada vez mais, eu sinto uma mão fria tocar meu ombro e quando me viro... Vejo um menino de pele alva, olhos ígneos, dentes afiados, que cospe sangue e anda com as mãos, mas o mais assustador é que ele tem a minha imagem, como num espelho invertido que brinca de refletir os nosso outro lado, a muitos anos eu venho guardando esse segredo, tentado fugir, É Ele, o outro eu que veio para me atormentar, a outra alma que divide meu corpo comigo, ele veio, me machucar, me buscar. Ele gargalha e murmura meu nome que ecoa pelos ventos transmitindo a mensagem por dentro da catedral, ele se aproxima e me faz definhar, membro a membro, até a morte.

Um comentário:

  1. oiiiiiiiiiii
    adorei o novo conto não via a hora de vc colocar um novo conto
    adoguei
    bjs

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