sábado, 14 de janeiro de 2012

A Vampira

Negro ser que da morte é irmã,
Boia na água, murmurando sanguinolenta,
A praga rainha de natureza violenta,
Feroz, devora o sol, o dia e todo o amanhã.

As sombras compõem seu esqueleto
Que se decompondo às moscas, pede e grita
Perdão a todas as almas numa prece infinita,
Atada com todos os demônios pelo amuleto.

Segurada pelos braços do inferno,
A vampira presa está agora,
Por um ódio antigo, porém moderno.

Chora, clama, berra a toda hora,
Enquanto seu amado chora neste inverno
E suas mortas lágrimas a saudade corrobora.

Arco-íris

Nascido dum intenso choro,
Feito de toda cor, em toda era,
Silente brota beijando a primavera
Ao eterno som dos anjos em coro.

Vagaroso, ele perde as cores
Que se derretem em preto e branco,
Virando pierrô e não mais saltimbanco
Suplica para que se cessem tantas dores.

Antes guardava um tesouro
Ao sortudo que encontrasse em seu final
O que toda lenda dizia ser um pote de ouro.

Mas depois desta canção,
Gótico agora é o arco-íris.
Fortuna envenenada, é agora maldição.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Morfina

Doce criança
Invisível para o mundo,
Quieta na matança
Do silêncio profundo.

Vá nos braços de Morfeu,
Beba esse néctar que dele é produzido,
No cume do céu, da noite o apogeu,
Fez-se jubileu por tê-lo bebido.

As gotas de morfina
Provadas ao silente,
Prata líquida genuína
Findou-se de tão quente.

Ao vento o pó sonífero
Declina sobre teu rosto,
Enraivecendo-lhe mortífero
Acordando-a em oposto.

Gritos na Madrugada

Perdido na bruma,
Da noite sem fim.
A quietude perfuma
As trevas feitas pra mim.

Ouço gritos na madrugada

A neblina me faz flutuar
Arrancando-me os pés do chão.
Uma energia sobe a me acalmar
Suspirando por tão doce sensação.

Noite pérfida e calada

Os seres tremeluzentes
Avistam-me a chorar,
Bebem minhas lágrimas inerentes
Enquanto me abraçam no doce luar.

O escuro é minha morada

No concreto, brota a negra rosa
Que se esvai à luz do sol,
Morre triste e lacrimosa
Tendo a morte como farol.

Oh! Doce lua imaculada

O vento leva o cheiro de sangue
Derramado de meu viver,
Cego às nuvens, porém exangue,
Caio, e meu mundo volta a aparecer.

A dama carrega de luz feita a espada

E eu sigo por essa estrada
Eternamente a gritar,
Chamando a rosa dissipada
Sem nunca parar de chorar.

Berros no horizonte, gritos na madrugada

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Rosa Cremada

Lágrimas correm em meu rosto
Porque te vir embora
E assim sinto um ódio morto
E uma saudade lírica e sonora.

Meu coração quer gritar
Para o mundo ouvir.
Um “eu te amo” começa a ecoar
E minha voz termina a sucumbir.

Preso estou ao seu amor
E não consigo transpor
O meu vivo calor
Em neve de isopor.

Um adeus me faz sentir
A dor duma despedida.
A saudade me faz descolorir
Em preto e branco, a melancolia desmedida.

As nuvens desenham no céu
As lembranças vivas em minha mente.
Sinto assim com gosto do fel
O germinar duma semente.

Ela cresce e se transforma
Numa rosa cremada,
E de fogo contorna
Uma paixão já maltratada.

As cinzas se espalham
Levando os restos de sentimento,
Que por outrem se fartam
Misturados com o vento.

Não posso mais nada dizer
Porque você não vai ouvir,
Depois de assim desaparecer
Na brisa a se esparzir.

O Rouxinol

Era uma vez
Um bobo rouxinol,
Na infinita placidez
Banhado pelo sol.

Seus olhos acordaram
Para a vida calma.
Suas asas despertaram
Entregando sua alma.

Logo a noite caiu
E o pássaro percebeu
Que a clara lua surgiu,
Então sua esperança reviveu.

A ave de espanto
Voou para a lua,
Contemplando seu pranto
De beleza crua.

O iludido rouxinol
Queria voar ao infinito,
Desejando aquele grande farol
Num tormento aflito.

Conta a lenda
Que a pobre ave
Quando chegou à fenda
Tornou-se suave.

Seus olhos explodiram
Numa lágrima sem fim,
Abraçados dormiram
Sozinhos assim.

Cheio de ciúme,
O pássaro nunca voltou,
Encantado pelo perfume,
Que a madame lua criou.

O Pianista

Dedos sobre as teclas,
Começo a tocar.
Tua sombra escuta,
E vem me abraçar.

Doce abraço,
Para sempre guardarei.
Em teu nome santo,
Em tua sombra morrerei.

Toco meu som,
Minha torpe melodia,
Meu cálido piano,
Para sempre sinfonia.

Tua voz eu escuto,
Em teu encalço me transformo,
Naquilo que não queria,
Para te ver meu amor,
Aonde não deveria.

Seguro teu corpo,
Que já está frio.
Sua alma se vai,
Para o eterno,
Que eu singelamente crio.