sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Anjo

A manhã de novembro começava fria naquele dia, mas isso não ofuscava a luz do sol que ardia os meus olhos ainda fechados de fadiga e sono. O relógio mostrava que eram 07h00min da manhã, e eu tinha que me levantar e ir ao trabalho, eu já louvava porque era uma sexta-feira e conseqüentemente o ultimo dia de trabalho antes do fim de semana. Eu um empresário de sucesso de 30 anos, me preocupava apenas em ganhar dinheiro sendo freqüentemente fútil e mesquinho. Eu morava sozinho num apartamento amplo e aconchegante do qual eu usufruía de todo o conforto que o ambiente podia me trazer. A neve se acumulava na entrada da minha casa e o vento me fazia tremer os queixos, eu atravessei a calçada com dificuldade e pegando a chave do meu carro, fechei por completo meu casaco, pois mesmo dentro do meu automóvel o frio conseguia me abalar.

O dia de trabalho fora cheio e dificultoso, mas consegui superá-lo sempre mantendo a calma, pois era rude e de fino trato, e irredutível eu me permaneci por todo o dia. A noite caíra e eu tratei logo de ir embora com a esperança de aproveitar desde agora o fim de semana que eu aguardava com tanta alegria. Eu peguei meu casaco e de relance olhei para a minha mesa na qual murchava uma rosa vermelha entristecendo o ambiente, e eu cada vez mais frigido ignorei a pobre planta que por ali iria permanecer até a morte consumi-la por inteiro.

Eu caminhava pela calçada molhada e notava que uma presença incomum me acompanhava, eu olhei para o lado e vi uma aparição inacreditável. Um homem de casaco comprido caminhava ao meu lado com uma peculiaridade: ele continha imensas e imponentes asas brancas que carregava em suas costas.

- Quem ou o que é você? – perguntei a ele com uma expectativa imensa de sua resposta.

- Eu sou um anjo! – disse ele com uma serenidade espantosa.

- E o que você quer comigo? – tornei a perguntá-lo novamente com grande medo e expectativa, pois ele poderia ter vindo para me buscar.

- Te converter. – ele respondeu transparecendo objetividade. – Você é um homem profano e eu vim na tentativa de tentar abrir seus olhos e você realmente enxergar a realidade que te rodeia.

Eu permanecia pasmo e chocado com o que estava acontecendo, pois na era freqüente a vinda de anjos na presença de mortais. Ele tinha a pele branca, os olhos azuis e um cabelo enrolado, atendia perfeitamente todos os meus conceitos sobre os anjos.

- Eu sei o que está pensando! – disse ele com firmeza como se tivesse lido meus pensamentos. – Eu decidi me apresentar assim obedecendo todos os seus conceitos da palavra anjo exatamente como a minha imagem se projeta na sua mente porque talvez aparecer de algum outro jeito você poderia se assustar com a minha aparência e a minha chance de persuasão se diminuiria. Contudo a minha verdadeira aparência deve permanecer oculta pra você, eu sou um ser de luz e sua visão perante a luminosidade desintegraria seus olhos. – disse ele me alertando.

- Olha, me desculpe, mas eu não tenho tempo nem vontade de ir a igreja, pois a considero uma perde de tempo e no meu caso tempo é dinheiro, além de tudo, eu nem acredito em Deus muito menos no demônio.

- Que pena! Pois eles acreditam em você! – aquelas palavras entraram em mim abalando-me por completo.

- Você tem que aceitar a redenção! Prove da água dos anjos e sua salvação assim será feita! – ele disse isso tocando meu rosto e praticamente hipnotizando-me. Eu o olhava fixamente e notava que seus olhos azuis produziam um olhar assassino (uma coisa incomum num anjo), mas minha autoridade já tinha sido tornado a pó e eu estava me deixando levar pela razão de seus dizeres.

Sem ter mais nenhum argumento eu me deleitei sobre seu colo e aceitei a salvação deixando agora a fé me contornar e me envolver no manto de Deus.

- Eu aceito! Faça comigo o que for sua vontade – dizendo essas palavras eu agora me entregava por inteiro às graças do meu Deus onipotente.

O anjo me olhou fixamente com o mesmo olhar assassino de antes, mas agora mais intensamente e deu um sorriso de canto de boca e disse:

- Está bem, assim seja feita sua vontade!

- A propósito, anjo, qual é o seu nome? – perguntei inocentemente.

O anjo é tomado pelas chamas, seu corpo se inebria com o vermelho do fogo, suas asas se encharcam de sangue e sua boca tilinta agora o doce néctar da vida, seus olhos ficam vermelhos de repente, e seu rosto perfeito se transformara em uma afeição tenebrosa que parecia ter sido esculpida pelo ódio e a vingança, e o anjo doce de antes se transforma naquele monstro.

- Eu sou Lúcifer! O anjo da morte. E eu vim para te buscar! – disse ele flutuando em minha frente citando os dizeres com uma voz rouca, mas grossa, como se estivesse possuída.

Ele gargalhou fortemente zombando da minha fragilidade mortal. Ele saltou para cima de mim e suas asas me cobriam e de repente não sinto mais meu coração bater, ele me levou.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O Possuído

Naquela noite eu estava com medo, deitado em minha cama podia escutar gritos de dor que ecoavam no condado onde morava. O sino tocava doze badaladas chamando a meia-noite e eu sendo apenas uma criança, corri apavorada para a cama dos meus pais, eu perguntava a eles o que era aqueles gritos e eles diziam que não eram nada, que era tudo da minha imaginação. O fruto do medo formou a curiosidade tomando-me assim coragem suficiente para ver o que estava acontecendo. De luto fechado, eu vesti uma capa negra e sai pelas ruas do condado como um espírito vagante procurando pelo o que me afligia e me tirava o sono. Eu parei de repente para admirar uma beleza de uma coisa incomum: eu via uma árvore completamente congelada e a beleza da perfeição da natureza na forma da morte. Eu me aproximei do casebre de onde vinham aqueles rugidos de desespero e empurrei a porta, ela rangia forte anunciando a minha chegada, e pelo meu desespero não havia ninguém, os gritos pararam e eu senti um alivio me possuir, até que novamente eles continuaram, mas dessa vez, vindos do porão. Eu singelamente entrei acanhado procurando pelo ser que emitia aqueles sons, velas acesas iluminavam o local e as labaredas cresciam à todo instante, a luz do luar invadia o porão no qual pouco à pouco eu entrava. Eu me aproximava cada vez mais e de repente eu via uma coisa sinistra: um padre ajoelhando rezava em algum tipo de dialeto desconhecido e freneticamente ele tremia no pé da cama onde um homem estava amarrada gritando como se alguém o apunhala-se pelas costas. O vento chicoteava os galhos secos ainda presos nas árvores e balançava também o meu espírito e os meus olhos de esmeralda se fascinavam com o que eu atentamente via, eu parado em frente àquele ritual com uma capa preta imitava o anjo da morte que vem com sua foice colher os frutos do mal e semeá-los de novo. Eu me aproximava da cama onde se debatia aquele facínora e sentia compaixão por ele por estar sentindo dor, eu toquei sua testa e com um olhar tenebroso virou sua face e segurou minha mão. Eu tentava fugir, mas ele era mais forte e sentia que ele iria arrancar meu pulso, ele olhou novamente para mim e sussurrando com uma voz rouca ele disse:

- Me ajude!

Uma lágrima de sangue transcorreu pelo meu rosto e banhou sua face, ele sentiu sua pele arder, e de repente um demônio abandona seu corpo como um parasita que abandona seu hospedeiro, o demônio voava ao redor da cama e rugia forte. Ele voou em direção a mim e possui meu corpo, eu vi toda minha vida passar diante dos meus olhos. O homem deitado na cama desperta de um transe mortal e pergunta ao padre o que vai acontecer a mim, o padre diz que isso eles irão descobrir. Eu baixei a cabeça e meus olhos verdes estão agora negros e eu suspirava a morte. Como um bicho do mato, ataquei os dois e vorazmente sentia o doce cheiro do sangue jorrar de seus corpos inocentes. Depois de terminar o serviço eu gargalhei alto contemplando meu feito e o demônio abandou-me também, mas antes ele fez meu coração parar de bater e largou meu corpo que foi apenas como um instrumento da morte.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A Menina da Fita Vermelha

Anne era uma menina afável, porém promíscua, ela tinha apenas 12 anos e morava naquele prédio grande e verde, ela sentava em frente dele, todos os dias exatamente à meia-noite, eu também passava por ele sempre a esse exato momento. Eu, um jovem missionário que estava a um passo de me entregar ao celibato tinha que conhecer melhor aquela rapariga antes que o fizesse. No meu passeio diário, ela sempre me olhava diretamente, bem no fundo dos meus olhos como um animal que instiga desafio, parecia estar me provocando. Eu estava me apaixonando, ela tinha uma aparência doce por causa da fita vermelha que usava em laço na cabeça, como um semblante de pureza. Um dia resolvi tomar coragem e ir falar com ela, tinha medo da rejeição e de ela humilhar a mim e aos meus sentimentos. Queria saber o segredo de seu rosto, o mistério de se corpo e o enigma de sua vida. Eu me aproximei e ela me olhou de cima à baixo, eu então falei:

- Quer sair comigo?

Ela então fez uma cara de orgulhosa e eu esperava um não bem dito na minha cara, e ela disse:

- Sim, estava mesmo com muita fome!

Depois de dizer essas palavras, ela soltou um sorriso sinistro e macabro, eu não sabia se ela escondia algum segredo, mas logo iria descobrir. Ela se levantou puxou minha mão com força e me levou para um beco escuro. Ela começava a me beijar ardentemente e eu correspondia, pois o meu desejo mais profundo estava se realizando. De repente seus olhos ficaram cor de fogo, ela parecia um monstro, eu tentava resistir, mas ela parecia ter uma atração magnética que não me deixava fugir daquela tentação. Ela pegou meus pulsos e prendeu a parede com uma força sobrenatural que chegava até a me machucar, ela os apertava tanto que parecia que eles iam estourar, e assim foi feito, meus pulsos estouraram como dois balões e o sangue espirrou pelo ar. Ela sentiu o cheiro forte e quente do sangue jorrando do meu corpo, eu tentava gritar, mas não conseguia porque ela ainda me beijava, ela ergueu o rosto depressa com voracidade, já davam pra ver os caninos afiados e prontos para serem usados, eu já tinha todas as informações de que precisava para entender o seu segredo: ela era uma vampira.

Não sei se fui muito burro ou apenas inocente para não perceber o seu verdadeiro ser. Ela sugava meu sangue como um doce néctar que limpava sua mente e espairecia sua cabeça, ela sugava tudo com força e a minha vida que naquele momento estava dividida em cada gota do meu sangue perdia-se em meio ao organismo daquele monstro. Depois que ela terminou de saciar sua sede, jogou meu corpo no chão esperando a morte ao relento no chão frio à beira da sarjeta agradecendo pela vida que eu tive e me arrependendo dos meus pecados e do meu maior erro da minha vida que foi ter preferido o prazer. Eu fechei meus olhos e meu espírito se dissipou.