sexta-feira, 30 de julho de 2010

O Bosque

Eu passeava feliz e despreocupado com a vida tentando esquecer as provações que vivia dentro de casa com a família, eu percorria a estradinha de terra que havia no bosque de majestosas árvores e impiedosos ventos. A paisagem era linda, eu a admirava com atenção adorando-a à cada instante, a beleza do bosque inebriava meus pulmões com verdes ares e eu percorria toda a floresta e a imortalidade das lembranças ia perdendo-se pouco à pouco em minha mente. Eu me perguntava se viver era tão necessário assim, pois não era merecedor da vida, eu tocava o meu coração através do meu amuleto que me acompanhava em todas as situações, eu lembrava de todas as felicidades, de todas as lástimas e de toda a frigidez que me rodeava, eu via anjos com longas vestimentas e imponentes asas alçarem vôo sobre minha cabeça e eu conformava-me cada vez mais de que a pureza de tais serem eram incontestáveis, pois a única coisa que acalentaria meu coração era um abraço de um anjo e sua suntuosa luz que se transforma em paz em meus braços, eu lamentava derramando lágrimas negras nunca ter tido tal oportunidade. Meu coração se aquecia dentro do meu corpo e acelerado ele pulsava fazendo meu sangue ferver correndo dentro de minhas veias. Eu sentia o oculto se esconder atrás dos arbustos, ele estava à espreita, esperava a hora certa para atacar. Eu via um gato negro miando em minha frente, eu sabia que ele anunciava a minha morte. Eu congelei ali mesmo onde estava e imóvel eu permaneci, pensar naquele momento era inútil e correr também, meus olhos azuis cintilantes brilhavam à luz do pôr-do-sol majestoso que me rodeava e sucumbia a minha tristeza conformando-me do terrível destino que me aguardava. As folhas das arvores farfalhavam como numa dança dos ventos e eu percebia como a natureza era perfeita e livre de erros, eu notei que estava anoitecendo e notei também que havia ignorado a minha morte que ainda estava ali, me olhando. Levantei do chão frio e sujo das folhas secas e comecei a andar, o vento foi me consumindo e o medo ia se aproximando junto com a morte. Eu senti uma presença atrás de mim, me virei e ao ver aquilo, gritei, mas foi meu ultimo grito e meu ultimo olhar. Aquilo pulou em cima de mim e começou a rasgar meu corpo e picotava minha alma como se fosse papel. A lua pura e cintilante era a única testemunha da minha dor, eu derramava lágrimas de sangue e se já sem voz eu tentei gritar, eu sentia meu espírito se esvaindo pelo vento e sendo tomado pela luz. Ele era feroz, parecia um animal, mas a realidade era incerta, eu não sabia como fugir, como pedir ajuda, eu me debatia na esperança de a ultima gota de vida não ser derramada, pois a ultima gota de lágrima já tinha sido. Ele deixava marcas profundas em meu corpo e rastros inabaláveis em meu sangue e minha história já tinha sido fadada ao término, depois de ter abusado de toda minha inocência ela se levantou terminando de brincar comigo pois já sabia que eu não tinha mais salvação, eu senti o peso daquele corpo se aliviando e se retirando, depois de me entregar finalmente à morte para ter o descanso eterno, eu escutei um miado estridente. Seria o gato que teria feito aquilo tudo?

Não... Mas, quem sabe? As feras sempre são imprevisíveis.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O Beco Sangrento

A lua brilhava naquela noite e iluminava meus olhos e os do meu amor no Beco Sangrento, era como ele era chamado por todos quem um dia passaram por ele e nunca mais voltaram. Eu andava sem rumo e desnorteado vagando como um andarilho que se perdia na imensidão da vida, o meu amor naquela noite era a solidão, que me acompanhava fielmente e era mantida com rigor. Eu estava desorientado no beco e meu corpo tonto e vacilante se arrastava pelas paredes, eu parecia uma criança perdida dos pais e com medo do que poderia encontrar mais adiante. Eu parei deslizando no chão e recostando-me no muro pensativo com as minhas tribulações que eu sabia que um dia iriam embora com o vento. Eu tinha sido amaldiçoado pela tristeza e a única coisa que não importava era a vida, estava sendo mal agradecido à Deus por ele ter dado essa dádiva a mim. Eu sentia tonturas e enjôos, vomitei na calçada, olhei estranho e voltei a pensar na vida, eu era uma escória, um estorvo, eu via vultos passarem na minha frente e via os olhares tortos me machucando por dentro e ferindo meus sentimentos. Eu olhei para o alto e já com a vista cansada e tonta de tanto beber Vodka, eu deparei-me com uma aparição inacreditável, eu não sabia o que era, pois só via sua sombra e sua silhueta, o rosto dele se escondia na lua cheia da sexta-feira treze, eu abaixei a cabeça, esfreguei os olhos pensando estar delirante, mas ele continuava ali mantendo fixo o olhar, não sabia se era uma coruja ou um cão, acho que nenhum dos dois, mas com certeza um demônio. Iria me puxar pra morte levando-me assim para o inferno, acho que eu merecia uma morte com o cérebro inebriado de álcool. Ele tinha olhos vermelhos, cor de sangue, me hipnotizava, eu não corria e nem fugia, o medo consumia naquele momento e o meu coração palpitava acelerado, eu dei meu ultimo suspiro, o monstro pulou em cima de mim com voracidade, eu me debatia, ele carregava consigo uma lâmina, ele me fez degusta- lá provando assim da dor, eu tentava gritar, mas não conseguia, minha voz tinha ido embora e a minha vida também teve o mesmo destino.